A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue e fome.
A voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
In: Cadernos Negros, vol. 13, São Paulo, 1990.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Criação do blog
O que o Atlântico uniu, ninguém irá separar
Esse blog foi criado em 6 de fevereiro de 2010 e tem como objetivo promover a reflexão a cerca das relações etnico-raciais a fim de superar visões pautadas no senso comum construidas historicamente.
As palavras de Costa e Silva (1994) reafirmam nosso posicionamento com relação a importância da África e dos africanos para a constituição de uma identidade nacional, quando diz que: "O Brasil é um país extremamente africanizado. E só quem não conhece a África pode escapar quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro. Por sua vez, em toda a outra costa atlântica podem-se facilmente reconhecer os brasileirismos. Há comidas brasileiras na África, como há comidas africanas no Brasil. Danças, tradições, técnicas de trabalho, instrumentos de música, palavras e comportamentos sociais brasileiros insinuaram-se no dia-a-dia africano. É comum que lá se ignore que certo prato ou determinado costume veio do Brasil. Como entre nós, esquecemos o quanto nossa vida esta impregnada de África. Na rua. Na praça. Na casa. Na cidade. No campo. O escravo ficou dentro de todos nós, qualquer que seja a nossa origem. Afinal, sem a escravidão o Brasil não existiria como hoje é, não teria sequer ocupados os imensos espaços que os portugueses lhe desenharam. Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história."
Referência bibliográfica:
SERRANO, Carlos, Waldman, Mauricio. Memória d'África: a temática africana em sala de aula. São Paulo: Cortez, 2007.
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